Alberto Pedrajo Pérez
A TAMPA DE ROSCA
Depois de doze números da nossa revista, nos quais seguimos a evolução dos trabalhos que são realizados nas bodegas e nos vinhedos durante um ano, começamos este número com uma nova linha de artigos.
Onde procuraremos mais uma vez, de uma forma simples e próxima, fugindo de tecnicismos.
Explicar alguns dos aspectos que rodeiam o mundo do vinho, os quais acreditamos que necessitam de uma explicação mais profunda.
Como em quase todos os aspectos da vida, o vinho está rodeado de muitos mitos e lendas. Alguns dos quais pretendemos ajudar a resolver.
Começaremos este novo espaço falando de um elemento que está cada vez adquirindo um espaço maior dentro do fechamento dos vinhos; a tampa de rosca.
Função da tampa
Sintética, natural ou de rosca. A principal função da rolha é o fechamento do recipiente do vinho para garantir sua conservação.
A partir daqui, as coisas começam a ser diferentes.
A principal virtude da tampa de rosca, além de seu preço, é seu fechamento hermético confiável.
Que garante a conservação do vinho. Ao contrário, a cortiça veda o ar em 85%.
Fecha o recipiente, mas não de forma hermética. Não é confiável.
Lembramos que a cortiça, por ser um material natural, é totalmente heterogênea. E, portanto, não existem duas rolhas iguais.
A cortiça natural é a rainha indiscutível dos fechamentos dos vinhos.
Com uma cota do mercado mundial de 70%. Em seguida vem a rosca com 18% natural e 12% sintético.
Mas dentro de seu reinado existem muitas luzes e sombras. Nem toda cortiça é de boa qualidade.
E, dentro deste setor, estima-se que entre 4 e 12% do produto seja defeituoso.
Utilizar uma cortiça de baixa qualidade é assumir o risco de que seu vinho possa sofrer alterações organolépticas.
E infelizmente não existem cortiças naturais “low cost”.
Cortiça vs. rosca
Enquanto a cortiça é, por direito, o método de fechamento de vinhos mais valorizado dentro da enologia.
Hoje em dia, é cada vez mais comum ver a tampa de rosca nos vinhos do mundo todo.
Depois de alguns anos em que o consumidor não via com bons olhos este tipo de tampa.
A tampa de rosca sofre uma incontrolável expansão, por causa de suas vantagens nos vinhos jovens e de meia crianza.
Nos últimos 30 anos, a tampa de rosca tem adquirido mais posicionamento.
Por quê? São vários os motivos pelos quais começaram a aparecer não somente as tampas de rosca.
Mas também as sintéticas. Para muitos, a principal vantagem desses sistemas de fechamento pode ser seu preço e os custos associados ao processo de rolhamento.
Mas, talvez, o maior impulso que este sistema recebeu tenha vindo de dois países: Austrália e Nova Zelândia, onde não existe um único sobreiro.
É a Árvore da qual é extraída a casca para fabricação das rolhas naturais.
Sua crescente indústria do vinho nos anos 1970, viu-se obrigada a procurar uma alternativa sólida para a rolha, para poder competir com os vinhos, principalmente os europeus, nos Estados Unidos.
A rolha sintética e a rosca de alumínio foram estudadas e desenvolvidas com grande força por estes países, com maior ou menor êxito segundo as tipologias de vinhos.
Mais de 30 anos de estudos e experiências proporcionam-nos informação suficiente para poder ter um critério objetivo a respeito.
As vantagens da tampa de rosca
Um dos aspectos mais positivos do uso da tampa de rosca é a comodidade, tanto da abertura como do fechamento, que permite preservar de forma ideal o vinho durante seu consumo.
É uma solução que reúne grandes vantagens: é hermética, confiável e inalterável, e isso irá garantir sua ação de barrar o oxigênio, preservando os vinhos de oxidações e facilitando outros aspectos.
Como a proteção do vinho de enxofre, que, ao estar mais protegido, permitirá que os enólogos dosem em menor quantidade.
A tampa de rosca pode ser usada para a crianza do vinho?
A principal diferença entre rolha e rosca parte do potencial “redox” do vinho, que é a mesma relação existente entre as reações de oxidação e redução dentro do mesmo.
Claro que o vinho precisa destes intercâmbios para poder evoluir, e a chave está no controle dessa transferência de oxigênio, já que pode ser alta, e o vinho se oxidará; ou pode ser baixa e o vinho se reduzirá, resultando nos característicos odores de enxofre.
Temos claro que a rosca é hermética, portanto tem tendência, ao longo do tempo, de produzir reduções nos vinhos, mas a rolha de cortiça nem sempre é tão permeável quanto nos dizem.
Partimos da suposição de que o vinho “respira” muito lentamente através da rolha.
A rolha deixa passar um pouco de oxigênio, mas às vezes isto não passa de uma teoria, já que nem todas as rolhas usadas na enologia são totalmente naturais e existem diferentes tipologias, aglomerados, 1+1, etc.
Onde são usadas colas e outros elementos, como a parafina e o silicone, que facilitam a vedação e deslizamento durante o fechamento, que pode dificultar sua respiração,
Dessa maneira, propiciando o aparecimento de aromas de redução semelhantes aos detectados nas tampas de rosca.
Estas incidências são relatadas por alguns especialistas em torno de 2% das garrafas abertas em vinhos de preço médio, que apresentam o mesmo problema.
Portanto, a chave está em determinar o tipo do vinho e da tampa, para determinar o tempo estimado que um vinho ficará na garrafa depois de sua crianza.
Geralmente estamos falando de períodos superiores a 12 meses, onde sua impermeabilidade nem sempre favorece a crianza dos vinhos, acentuando a fase redutora.
Mas a evolução no uso dos diferentes sistemas de fechamento ajudou os enólogos a engarrafarem os vinhos em distintas fases, que nos asseguram que a dose de oxigênio dentro do vinho será a certa para seu processo de crianza em garrafa, atuando quase como um marcador de seu potencial de envelhecimento.