Talvez a mais conhecida das pragas, pela sua devastação, tenha sido a da filoxera, que no final do século XIX, arrasou com o vinhedo nas comarcas vinícolas europeias.
A filoxera – Dactylosphaera vitifoliae – é um inseto de tamanho reduzido, que apareceu pela primeira vez na Europa em 1853, acabando com a maior parte dos vinhedos europeus.
A praga foi para a Europa junto com as cepas americanas que haviam sido importadas para solucionar a primeira praga – o oídio. Esse fungo, que descrevemos no artigo anterior (edição nº 163), atacava os vinhedos da Europa de maneira agressiva, já que se propagou muito rapidamente, causando fortes danos à produção.
Como houve uma repercussão econômica muito importante na época, surgiu a urgência em encontrar uma solução para frear a doença.
Por esse motivo foram importadas para vários pontos da França, plantas da variedade “Isabela”, uma videira americana que era resistente ao fungo (oídio). E foi nessas plantas que o inseto viajou dos Estados Unidos à Europa.
A imprudência e a cobiça de alguns viveiristas franceses fez com que a França fosse a primeira a sofrer com essa praga, que se propagou completamente pelo país e posteriormente para os vinhedos do resto do continente.
A filoxera chegou para ficar e poucos anos mais tarde converteu-se na praga global mais devastadora e decisiva da história da viticultura mundial.
Frente à aparição desta doença, foram colocadas em prática numerosas técnicas e tratamentos com a finalidade de frear a praga, obtendo maior ou menor sucesso, mas ao todo foram necessários mais de 30 anos para superá-la.
A solução foi encontrada em raízes de origem americana que eram resistentes ao inseto, tornando o enxerto o remédio contra a filoxera. E foi graças ao enxerto das variedades europeias que não eram resistentes à praga, sobre os porta-enxertos das espécies americanas – estas, sim, resistentes -, que se iniciou a recuperação dos vinhedos devastados pela invasão filoxérica.
Reconstituíram-se assim os vinhedos europeus: sobre uma raiz americana resistente à filoxera, e com uma parte aérea produtora de uva europeia, já que a uva da videira americana não era ótima para a vinificação.
Desse modo, quase todos os vinhedos atuais consistem de um pé ou porta-enxerto de videira americana e um enxerto de videira tradicional da região.
Desde o início da utilização do porta-enxerto, a filoxera converteu-se em um problema menor. Atualmente, todos os vinhedos do mundo, com exceção dos chilenos, de alguns espanhóis e daqueles plantados em solos arenosos, são enxertos desse tipo.
Todos os viveiros de hoje administram plantas nestas condições, acompanhadas de um passaporte fitossanitário para garantir a variedade, origem e outros aspectos relacionados ao produtor, e também para garantir que a planta está livre de organismos nocivos, havendo passado por um controle sanitário exaustivo.
Texto: Alberto Pedrajo