/Por Ana Beatriz Miranda
Uma tradição que remonta ao Império Romano e perdura até hoje, o vinho de talha é elaborado em Portugal, no Alentejo. Para ser chamado assim, ele deve ser feito em ânforas de barro. Pode ser branco, tinto ou rosé (chamado de petroleiro). “Talha” vem de “tinalia”, em latim, que significa “vaso de grandes proporções”.
A ânfora é um dos mais antigos recipientes para conservar, armazenar e transportar bebidas. A talha é a sua maior dimensão. Um enorme pote de barro, com boa porosidade. Na zonas rurais do Alentejo é comum ver produtores caseiros de vinho de talha.
Como o vinho de talha é feito?
Seguindo os processos ancestrais, que passaram de geração para geração, a produção é totalmente artesanal. Ela varia ligeiramente de acordo com a vinícola. De forma geral, as uvas são esmagadas por pisa e dali vão para as ânforas. A fermentação não é estimulada. A ideia é que ela ocorra espontaneamente, através das leveduras indígenas, das cascas das uvas.
Os restos sólidos da fermentação, como cascas, sementes e engaços, chamados de chapéu, sobem por ação do gás carbônico liberado e ficam no topo da talha. Os produtores afundam novamente esses resíduos umas duas vezes até que eles se depositem no fundo do recipiente.
Quando a parte sólida decanta, a ânfora é fechada com uma placa de madeira ou tecido. No passado, usava-se azeite para proteger o vinho do contato com o ar. Tradicionalmente o vinho de talha é servido diretamente da ânfora, a partir de uma torneira inserida ali.
Pureza e muita fruta
O vinho de talha tem uma intervenção mínima durante a sua elaboração. Sendo assim, é uma bebida de uma franqueza peculiar, com muita presença de fruta, além de toques minerais e de oxidação, que vêm do barro. Os aromas são puros e intensos. Alguns exemplares passam por tanques de inox ou barricas de carvalho para adquirirem mais complexidade depois das talhas. Outros nascem simples e naturalmente das próprias ânforas. Uma preciosidade que sobreviveu ao tempo e que vale a pena experimentar!