/Por Sergio Crusco
Atravessando o Tejo, é possível fazer um ou dois bate e volta a partir de Lisboa para conhecer algumas vinícolas. Ou ter Évora, a capital alentejana, como base para múltiplos passeios, pois tudo é muito próximo.
A opção mais glamourosa, no entanto, é hospedar-se em alguns dos wine hotels da região, cercar-se de luxo, conforto, paz e, acima de tudo, excelentes vinhos e gastronomia.
Você pode começar a preparar a alma para a viagem cá no Brasil, onde o vinho alentejano é xodó: mais de 50% das importações portuguesas vêm da região.
Conhecemos bem o caráter redondo, frutado e potente dos vinhos tintos produzidos com castas autóctones ou bem adaptadas ao local, como aragonês (a mesma tempranillo dos espanhóis), alicante bouschet, touriga nacional, trincadeira, castelão. Nos brancos, predomina a aromática antão vaz, frequentemente cortada com roupeiro, fernão-pires e arinto, que concedem acidez ao vinho.
O que provar
Feita a prova e com o pé em Portugal, seus passeios podem ser rústicos, luxuosos, modernos, tradicionais, ancestrais… ou tudo isso ao mesmo tempo. Se quiser começar com estilo, uma das possibilidades de hospedagem é a vinícola Torre de Palma, em Monforte.
Apesar de a casa ser jovem, fundada no século 21, as vinhas e o hotel circundam uma torre erguida em 1338. Cada quarto tem uma decoração única – alguns bem avant-garde – e as atrações incluem restaurante de alta gastronomia, bar, equitação, passeios de balão, trilhas, visitas a ruínas romanas e outras aventuras, além de vinhos de alta gama.
A charmosa Herdade do Sobroso, na Vidigueira, também oferece alojamento em suítes acolhedoras com vista para a planície alentejana e uma piscina convidativa.
Quem não se hospeda ali pode agendar experiências como cursos de iniciação à prova de vinhos, wine tours com degustação de rótulos da casa, passeios de bicicleta, cavalgada, canoagem, pesca ou atividades ecológicas, como observação de aves e safári fotográfico em uma reserva.
Outra opção de acomodação com elegância é a Herdade dos Grous, em Beja, nas pitorescas construções brancas e azuis circundadas pelas vinhas. A Herdade do Mouchão, em Casa Branca, parece simplória perto das vinícolas modernas. Mas não se engane com o aspecto franciscano do lugar, onde a luz elétrica só chegou em 1991.
A adega foi fundada em 1901 por uma família inglesa que já explorava a cortiça na região (quase todas as nossas rolhas vêm do Alentejo, extraídas de uma árvore chamada sobreiro).
Quem entende do riscado sabe que ali é feito um dos vinhos mais especiais do pedaço, o Mouchão, com alicante bouschet e trincadeira. As uvas ainda são pisadas, como há 120 anos, e turistas podem participar do processo, que acontece em setembro. As provas são acompanhadas por queijos e embutidos de porco alentejano, uma das grandes iguarias da região.
O que admirar
Se há espírito para se deslumbrar com um show arquitetônico, inclua no roteiro a Quinta Dona Maria, em Estremoz. A sede da vinícola é uma construção barroca toda forrada de azulejaria portuguesa por dentro, palacete que servia de alcova aos encontros de dom João V e a amante dele – a tal dona Maria.
Há uma igreja e um grande jardim-horta e a proprietária comanda visitas que podem prever simples degustações ou, no acachapante salão de jantar, uma refeição harmonizada com os vinhos elaborados por Júlio Bastos. À parte a antiguidade do lugar, o estilo de Bastos é moderno e mescla castas regionais às internacionais, como syrah, cabernet sauvignon e petit verdot.
Moderníssima, a Herdade Aldeia de Cima, na Serra do Mendro, é uma boa representante da tendência global de vinhos mais leves e menos extraídos, embora feitos das mesmas castas tradicionais do Alentejo.
Tudo é cool no lugar: as instalações da vinícola, o desenho minimalista dos rótulos e a pegada sutil, porém cheia de nuances, dos vinhos. As visitas podem incluir degustações ou refeição típica harmonizada, em um antigo casarão decorado com o fino do artesanato regional.
A Adega Cartuxa, em Évora, está instalada em uma propriedade que outrora pertenceu aos monges cartuxos e é outro ponto para quem quer provar vinhos tradicionais, a começar pelos de talha, parte do extenso portfólio da casa. Desde a chegada dos romanos, esses vinhos são elaborados em grandes ânforas de barro por famílias de camponeses alentejanos.
A técnica, que garante frescor exuberante à bebida, hoje é adotada por vinícolas alentejanas de todos os portes e tendências. Ali é possível programar vários tipos de visita, de simples degustações a jantares harmonizados.
Grande vinho da casa, o Pêra-Manca (trincadeira e aragonês) não está no menu das provas, mas pode ser comprado na loja da adega por menos da metade dos 4 mil reais que custa no Brasil.
Vale lembrar
Consulte os sites oficiais das vinícolas para agendar visitas. O escritório da Rota dos Vinhos do Alentejo, em Évora, conta com informações e contatos.